A
Síndrome do Pânico causa grandes sofrimentos e é bastante comum, mais do que se
imagina. Felizmente existe solução, desde que feito um diagnóstico preciso que
a pessoa queira realmente rever sua experiência de vida e seus valores,
acompanhado por um profissional qualificado que vai servir como catalisador e
orientador do processo.
Por
estes relatos, que poderiam ser de diferentes pessoas que sofrem de Síndrome do
Pânico, é possível identificar o grau de sofrimento e impotência que estas
pessoas sentem ao passar pelas crises. A pessoa sente-se desprotegida e seu
corpo passa a ter sensações estranhas, porém os exames clínicos não detectam
nada de anormal com seu organismo.
Geralmente,
a Síndrome do Pânico aparece no começo da vida adulta e é detonada por
situações de estresse, como pressões no trabalho, no casamento ou na família,
em que a pessoa se sente desamparada. O transtorno é de duas a quatro vezes
mais freqüente nas mulheres, mas também pode ocorrer com sinais semelhantes nos
homens. É claro que um único episódio de crise de ansiedade não caracteriza a
Síndrome do Pânico, mas crises repetidas levam ao desenvolvimento do
transtorno.
No
pânico o perigo vem de dentro, o organismo responde a um alarme falso, o corpo
reage como se estivesse frente a um perigo extremo, porém não há nada visível
que possa justificar esta reação.
É
comum a pessoa passar a restringir a sua vida ao mínimo, limitando toda forma
de estimulação para tentar evitar que aquela sensação volte. Assim a pessoa
passa a evitar lugares, foge de atividades físicas e fica em casa, privando-se
de muitas experiências, e essa atitude passa a comprometer a sua vida pessoal e
profissional. Vamos compreender o que acontece com a pessoa.
A Síndrome do Pânico é um
transtorno psíquico caracterizado pela ocorrência de inesperados ataques de
medo extremo e por uma expectativa ansiosa sobre a possibilidade de ter novos
ataques. Os ataques de pânico consistem em períodos de intensa ansiedade,
geralmente com início súbito e acompanhados por uma sensação de morte iminente.
A freqüência das crises
varia de pessoa para pessoa, assim como sua duração. Há crises de pânico mais
intensas e outras menores.
Durante as crises, os
portadores relatam sintomas como:
- Taquicardia / Falta de ar
- Dor ou desconforto no peito
- Formigamento /Tontura
- Tremores / Náusea ou desconforto
abdominal
- Embasamento da visão
- Boca seca, dificuldade de engolir
- Sudorese, ondas de calor ou frio
- Sensação de iminência da morte
As crises de pânico
costumam iniciar a partir de uma reação inicial que cause ansiedade. A partir
daí passa a surgir na mente da pessoa uma série de interpretações negativas
sobre o que está ocorrendo, sendo muito comum alguns pensamentos catastróficos
como o de que a pessoa está perdendo o controle, vai desmaiar, está
enlouquecendo ou que vai morrer.
No intervalo entre as
crises a pessoa costuma viver na expectativa constante de ter uma nova crise.
Este processo é chamado de “ansiedade
antecipatória”, que leva muitas pessoas a evitar certas situações e a
restringir suas vidas a um mínimo de atividades.
Enquanto nas Fobias
Simples a pessoa teme uma situação ou um objeto específico fora dela, como por
exemplo, medo de altura ou medo de lugares fechados, no Pânico a pessoa passa a
temer as reações de seu próprio corpo; é para essas reações que se volta a
atenção, como deflagradores das crises de Pânico.
A Síndrome do Pânico é um
estado de ansiedade que poderá ser relacionado a estar em locais ou situações
onde escapar ou obter ajuda poderia ser difícil, caso a pessoa tivesse um
ataque de pânico. Pode incluir várias situações como estar sozinho, estar no
meio de multidão, estar preso no trânsito, dentro do metrô ou num shopping. As
pessoas que desenvolvem este tipo de Pânico, geralmente se sentem mais seguras
com a companhia de alguém de sua confiança e acabam elegendo alguém como
companhia preferencial.
Este acompanhante funciona
como um regulador, ajudando a pessoa a se sentir menos vulnerável a uma crise
de pânico.
A pessoa com pânico vive
um profundo conflito em relação às suas sensações corporais. Seu corpo é vivido
como uma fonte constante de ameaça. A pessoa faz constantes interpretações
equivocadas de suas sensações corporais, achando que vai ter um ataque cardíaco,
que está doente, que vai desmaiar, que vai morrer, etc. Há uma profunda falta
de confiança em si mesma.
A pessoa com Síndrome do
Pânico vive ansiosamente o que poderia ser vivido com sentimentos
diferenciados. Numa situação que poderia despertar alegria, a pessoa se sente
ansiosa; numa situação que provocaria raiva ela também se sente ansiosa.
Qualquer reação interna ou sentimento mais intenso tende a despertar reações de
ansiedade.
As sensações de Pânico
podem ser variadas, desde uma alteração nos batimentos cardíacos, uma sensação
de perda de equilíbrio, tontura, falta de ar, enjôo, palpitação, tremor, etc. A
presença destes gatilhos corporais podem disparar a ansiedade mesmo quando a
pessoa não se dá conta de sua presença.
A ansiedade é a emoção típica
da expectativa de perigo, ela ocorre quando a pessoa se projeta numa situação
futura sentida como ameaçadora: eu vou... e vou passar mal. A pessoa com pânico
vive tomada por graus variados de ansiedade e tem dificuldade de se sentir
inteira no momento presente, vivendo como prisioneiro remoendo os seus
pensamentos do que irá acontecer no futuro.
O estado de ansiedade leva
a rigorosidade no processo de atenção e pensamento. A atenção passa a se
deslocar involuntariamente, monitorando o corpo ou o ambiente em busca de algo
que possa representar perigo. O enfraquecimento da capacidade de controle
voluntário da atenção está relacionado à dificuldade de concentração.
Sob ansiedade a
consciência é tomada por um fluxo de preocupações, pensamentos catastróficos e
ruminações, a pessoa tem pouco domínio de sua mente. Surgem interpretações
equivocadas das sensações corporais e pensamentos catastróficos, onde a pessoa
passa a esperar sempre pelo pior.
Ao sentir alguma alteração
em seu corpo a pessoa reage com ansiedade. A ansiedade produz um conjunto de
reações fisiológicas que são naturais desta emoção. Porém a pessoa com Pânico
tende a interpretar estas reações como se elas fossem perigosas. Estes
pensamentos catastróficos acabam por produzir mais ansiedade, o que por sua vez
vai aumentar ainda mais as reações fisiológicas, reforçando assim os
pensamentos catastróficos.
Cria-se assim um circuito
infindável, onde as reações fisiológicas naturais do sentimento de ansiedade
são interpretadas equivocadamente como perigosas em para si, o que produz mais
ansiedade e alimenta os pensamentos catastróficos, num processo sem fim.
Através do processo
emocional podemos regular o nosso próprio estado interno, nos acalmando, nos
contendo e motivando. Através do processo de
vínculos com pessoas ligadas ao nosso dia a dia podemos influenciar
reciprocamente a parte fisiológica e os afetos um do outro e assim podemos nos
acalmar e nos regular nos relacionamentos com pessoas de confiança.
Esses dois processos são
normais, necessários e importantes ao longo da vida. Nas pessoas que
desenvolvem Síndrome do Pânico encontramos problemas nestes dois processos,
tanto uma precária capacidade de regular e controlar o lado emocional, como uma
fragilidade nos processos de vínculos.
Tomada pela ansiedade nas
crises, mas também num grau menor no período entre as crises, a pessoa com
pânico não sabe como apagar o fogo que arde dentro de si.
A qualidade da relação com
a própria excitação interna começa a se moldar nas experiências precoces de
vida. Inicialmente a mãe ajuda e ampara a criança até que esteja mais madura e
possa se amparar. Observa-se que nas pessoas com Síndrome do Pânico esta função
não está bem desenvolvida e a pessoa sente-se facilmente ansiosa e vulnerável
frente às reações emocionais. É comum, por exemplo, as pessoas com Pânico terem
tido mães ansiosas, emocionalmente hiper-reativas, que ao invés de acalmarem a
criança, a deixavam mais assustadas a cada pequeno incidente, como um tropeção
ou um simples resfriado.
Experiências de vida desde
a infância precoce podem atrapalhar o desenvolvimento da capacidade de auto
controle, tornando uma pessoa mais vulnerável a desenvolver futuramente um
transtorno ansioso como a Síndrome do Pânico.
Muitas pessoas com Pânico
costumam solicitar a presença constante de alguém para que se sintam mais
seguras. Vivem buscando compensar a sua dificuldade de auto controle através de
uma compensação pelo vínculo.
O desenvolvimento da
capacidade é fundamental para uma pessoa que tenha medo de suas reações e tenha
dificuldade em se auto controlar, como ocorre com as pessoas com Síndrome do
Pânico.
Quando duas pessoas estão
conversando, elas estão em contato, mas não necessariamente em conexão. Contato
é uma interação de presença, que pode ser superficial, enquanto conexão é uma
ligação profunda que ocorre mesmo quando as pessoas estão distantes. Duas
pessoas podem estar em contato, conversando, mas com baixíssima conexão, como
numa situação social formal. Por outro lado, duas pessoas podem estar
fisicamente distantes, e, portanto sem contato, mas se sentirem conectadas.
Esta distinção entre
contato e conexão é muito importante para compreender o que ocorre na situação
que produz as crises de pânico. Muitas pessoas têm a sessão de que quando a
crise eclode elas estão sozinhas, sem conexão com os outros. A desconexão pode
ser um fator importante para desencadear uma crise de pânico.
A pessoa com pânico
geralmente conhece as sensações de estar ausente, meio fora da realidade, se
sentindo distante mesmo de quem está ao seu lado. Muitas pessoas relatam que
quando estão acompanhadas de alguém confiável, tendem a não ter crises de
Pânico. Porém, isto é verdadeiro somente enquanto elas se sentem conectadas com
esta pessoa. Quando a outra pessoa está ao lado, portanto em contato, mas sem
conexão emocional, a crise de Pânico pode se instalar do mesmo modo.
A conexão com o outro pode
prevenir as crises por oferecer certa proteção vincular, a garantia de um
vínculo que protege contra a sensação de desamparo, que desencadearia a crise.
A outra pessoa funciona como um porto seguro. Na ausência da conexão com o
outro, o psíquico poderá se desregular e a sensação de pânico, eclodir.
A segurança criada pelos
vínculos ocorre, por exemplo, quando a mãe acalma a criança assustada,
pegando-a no colo, dirigindo-lhe palavras num tom de voz sereno, ajudando deste
modo a diminuir a ansiedade e a agitação da criança. Este processo envolve o
estabelecimento de um vínculo com uma comunicação profunda de estados
emocionais. Demanda conexão e não apenas contato.
Geralmente as pessoas que
desenvolvem Pânico tiveram experiências vinculares traumáticas, que podem
envolver perdas, rompimentos, traições ou abandono. Estes traumas prejudicaram
a capacidade da pessoa estabelecer e manter conexões emocionais profundas,
fator essencial para a segurança emocional criada pelo vínculo.
Assim a pessoa pode
algumas vezes se sentir protegida com a presença de alguém de sua confiança,
mas acaba voltando ao estado de vulnerabilidade tão logo esta pessoa se afaste.
Há uma precariedade na conexão vincular que se torna inconstante e frágil.
Há uma relação
significativa entre o Pânico e as crises de ansiedade disparadas pelas
situações de separação na infância. Uma boa parte das pessoas que desenvolvem
Síndrome do Pânico não conseguiu construir uma referência interna do outro
(inicialmente a mãe) que lhe propiciasse segurança e estabilidade emocional.
Esta falta de confiança pode trazer, em momentos críticos, vivências profundas
de desconexão e desamparo, disparando crises de pânico.
A experiência do Pânico é
muito próxima do desespero de uma criança pequena que se sente sozinha, uma
experiência limite de sofrimento intenso, de sentir-se exposta, frágil,
desprotegida, sob o risco de morte.
As pessoas com Síndrome do
Pânico sofrem com uma falta de relação básica, falta de conexão e confiança nos
vínculos, o que leva a uma vivência insegura, com experiências de fragilidade,
vulnerabilidade e desamparo.
Para uma pessoa ficar boa
da Síndrome de Pânico não basta controlar as crises. É necessário integrar as
sensações e sentimentos que estavam disparando as crises e assim superar o
estado interno de desamparo.
A melhora advém quando a
pessoa torna-se capaz de sentir-se identificada com seu emocional, capaz de
influenciar seus estados internos, sentindo-se conectada com os outros à sua
volta, podendo lidar com os sentimentos internos, se re-conectando com os fatores
internos que a precipitaram no Pânico e podendo lidar com eles de um modo mais
satisfatório.
Superar a experiência da
Síndrome do Pânico pode ser uma grande oportunidade de crescimento pessoal, de
uma retomada vital e contemporânea do processo psicanalítico na vida de cada
um.
Fonte: Elizabeth Oliva Mednicoff - Psicóloga e Escritora