sexta-feira, 30 de março de 2012

LUTO COMO PROCESSO NATURAL DA CONDIÇÃO HUMANA


A morte é a única certeza de nossas vidas. Essa certeza vem da constatação da finitude da vida. Em nossa cultura Ocidental, a ideia de morte vem acompanhada de um grande pesar, medos e angústias, que, muitas vezes, nos dificultam encará-la como um processo natural da condição humana.

Quando perdemos uma pessoa querida, além da angústia e tristeza que a saudade nos impõe, também nos sentimos ameaçados frente à sua morte. Esta nos aproxima da nossa própria condição humana e do fato de que a morte também nos permeia, e fatalmente nos atingirá um dia. Isso nos torna, ainda mais vulneráveis, em um momento que já é tão difícil.

Para Freud (1916) “luto é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade, o ideal de alguém e assim por diante”.  .

É importante ressaltar que o luto é um processo que se inicia com a perda propriamente dita e se desenrola até o período de sua elaboração – quando o indivíduo enlutado volta-se, novamente, ao mundo externo.

Para a Psicanálise, desde que o luto seja superado, ele não é considerado uma condição patológica, mesmo que traga consigo grandes mudanças no estilo de vida de quem o vivencia, tal como a perda de interesse por atividades do cotidiano e pelo convívio social.  

Cada indivíduo reage ao luto de forma distinta, variando de acordo com sua estrutura emocional, suas vivências e sua capacidade para lidar com perdas.
É fundamental que esse processo de enlutamento, seja vivenciado até que ele seja superado, para que a dor da perda não fique reprimida e se manifeste posteriormente como algum outro sintoma. Esse é um processo lento e sua melhora gradual, com período de duração variável para cada pessoa.

O processo é normalmente, vivenciado através de um ou mais sintomas abaixo:

Entorpecimento - O indivíduo recentemente enlutado sente-se descrente, em choque, atordoado, desamparado. Isso acontece devido à dificuldade em aceitar a perda.  

Negação – Se apresenta como mecanismo de defesa frente a essa situação tão dolorosa.

Anseios - Crises intensas de choro e Dor profunda –  A perda pode gerar um grande anseio por reencontrar a pessoa morta. A impossibilidade desse reencontro pode gerar crises intensas de choro e dor profunda, assim como uma preocupação excessiva com seus pertences e objetos que tornem sua lembrança viva.

Culpa – Em muitos casos, esse sentimento é bastante presente. O enlutado pode, ao relembrar alguns eventos vivenciados com a pessoa morta, achar que deveria ter agido de forma diferente nessas ocasiões, ou, até mesmo, que poderia ter evitado sua morte.

Raiva, desespero, falta de prazer e hostilidade - Muitas vezes, o enlutado se volta contra amigos, familiares, médicos, Deus e, quando há o sentimento de culpa, contra si mesmo. Ele pode vir a se afastar dos amigos e do convívio social assim como perder o prazer e interesse no mundo externo, tanto em atividades novas quanto costumeiras.

A superação do luto se inicia quando o enlutado passa a construir um novo tipo de vínculo com a pessoa morta, fazendo com que a relação seja preservada em outro patamar, ou seja, quando o indivíduo falecido é internalizado, continuando, assim, a viver no mundo interno do enlutado.  

O sofrimento começa, então, a diminuir e ele torna a resgatar laços sociais, retomando vínculos antigos e construindo novas relações.

Podem ocorrer recaídas, principalmente em datas que lembrem o indivíduo falecido, como  aniversários de nascimento ou de morte, porém o apoio e a compreensão, tanto dos amigos quanto dos familiares, ajudarão a fazer do processo de enlutamento algo mais suportável.

Com o tempo, o enlutado volta a se inserir no mundo externo de modo pleno e normalmente, com sua capacidade de suportar perdas aumentada e amadurecida.


Texto de:  Fernanda Abatepaulo Linhares Guimarães


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